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“PACTO DAS CATACUMBAS DA IGREJA SERVA E POBRE 1
1 KLOPPENBURG, Boaventura (org.). Concílio Vaticano II. Vol. V, Quarta Sessão. Petrópolis: Vozes, 1966, 526-528. Assinado nas catacumbas de Domitila, Roma, no dia 16 de novembro de 1965.
Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as
deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns
pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a
singularidade e a presunção; unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado;
contando sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com
a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocandonos,
pelo pensamento e pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de
Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e
na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e
toda a força de que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que se segue:
1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que
concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20.
2) Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza,
especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de
matéria preciosa (devem esses signos ser, com efeito, evangélicos). Cf. Mc
6,9; Mt 10,9s; At 3,6. Nem ouro nem prata.
3) Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, etc., em nosso próprio nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo no nome da
diocese, ou das obras sociais ou caritativas. Cf. Mt 6,19-21; Lc 12,33s.
4) Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em
nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel
apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e
apóstolos. Cf. Mt 10,8; At. 6,1-7.
5) Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos
que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor...).
Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre. Cf. Mt 20,25-28;
23,6-11; Jo 13,12-15.
6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo
que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência
qualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos,
classes nos serviços religiosos). Cf. Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19.
7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem
quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por
qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas
dádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação
social. Cf. Mt 6,2-4; Lc 15,9-13; 2Cor 12,4.
8) Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração,
meios, etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos
laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso
prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos,
religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os
pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho. Cf. Lc
4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; At 18,3s; 20,33-35; 1Cor 4,12 e 9,1-27.
9) Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações
mútuas, procuraremos transformar as obras de "beneficência" em obras sociais
baseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as
exigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes.
Cf. Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33s.
10) Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e
pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as
estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao
desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e,
por aí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do
homem e dos filhos de Deus. Cf. At. 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9 inteiros;
1Tim 5, 16.
11) Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na
assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria
física, cultural e moral - dois terços da humanidade - comprometemo-nos:
- a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos
episcopados das nações pobres;
- a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas
testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de
estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias
num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem
de sua miséria.
12) Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com
nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso
ministério constitua um verdadeiro serviço; assim:
- esforçar-nos-emos para "revisar nossa vida" com eles;
- suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o
espírito, do que uns chefes segundo o mundo;
- procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores...;
- mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião. Cf. Mc 8,34s;
At 6,1-7; 1Tim 3,8-10.
13) Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos
diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces.
AJUDE-NOS DEUS A SERMOS FIÉIS